Descrição
O presente volume configura mais um árduo e bem-vindo trabalho de pesquisa, organização e reflexão de um incansável intelectual. Rogério Nascimento já nos brindou com algumas dezenas de artigos e compilações (algumas publicadas no bom e velho esquema punk do faça você mesmo) e agora apresenta uma extensa antologia (abarcando mais de 60 anos de reflexão libertária sobre educação) que, além de incluir alguns militantes e intelectuais relativamente conhecidos do campo do anarquismo (José Oiticica, Lima Barreto e Octávio Brandão, por exemplo), destaca as centenas de pessoas anônimas que ao longo dos artigos resgatados das páginas de periódicos operários centenários, imprimiram suas ideias, angústias e anseios sobre o tema da educação.
Rodrigo Rosa da Silva
Professor no Departamento de Educação (UEL) e membro da Biblioteca Terra Livre.
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À escola oficial, regida por governos de direita, esquerda ou centro, não importa, é definido uma destinação decisiva de espaço difusor de uma sociabilidade do domínio, procurando tornar viável o controle dos segmentos sociais por uma classe dirigente.
Atuam nesta direção, sobretudo, fazendo as camadas extensas da sociedade se tornarem sensíveis e empáticas, motivadas e aderidas, não só acolhendo a vibração de assujeitamentos, mas incrementando-a com sua participação ativa e colaboração consciente. Como dito por Stirner, no texto abaixo indicado, o que almejam ambas, direita e esquerda, é a formação de seres humanos submissos, escravos, habituados e, mais do que isto, entusiastas das relações autoritárias.
Em pedagogia, como em outros campos, a liberdade não pode expressar-se,
nossa faculdade de oposição não pode exprimir-se; exigem apenas a
submissão. O único objetivo é adestrar à forma e à matéria: do estábulo dos
humanistas (leia-se, da direita) não saem senão letrados, do estábulo dos
realistas (leia-se, da esquerda), só cidadãos utilizáveis e, em ambos os casos,
nada além de indivíduos submissos. Sufocam pela força nossa saudável
tendência à indisciplina e impedem ao mesmo tempo o Saber de
desenvolver-se em Vontade livre. A vida escolar só engendra filisteus.
Adquirimos o hábito, em nossa infância, de resignarmo-nos a tudo o que nos
era imposto: do mesmo modo, mais tarde, resignamo-nos e adaptamo-nos à
vida positiva, adaptamo-nos à nossa época, tornando-nos seus servidores, o
que se conveio chamar de bons cidadãos (STIRNER, 2001: 77 parêntesis meus).
SOBRE O ORGANIZADOR
Rogério Humberto Zeferino Nascimento é professor associado III na Universidade Federal de Campina Grande, leciona disciplinas de Antropologia na graduação em Ciências Sociais e no mestrado profissional de Sociologia – Profsocio. Graduado (1992) e mestre (1996) em Ciências Sociais pela UFPB e doutor (2006) pela PUC-SP, integra o Núcleo de Sociabilidade Libertária (NU-Sol).
Publicou Florentino de Carvalho: pensamento social de um anarquista (2000, Achiamé) e Jornal e Revista de Trabalhadores: pensamento coletivo e indisciplina, experimentos e emergência de saberes anarquistas no Brasil (1907–1915) (2020, EDUFCG). Organizou uma trilogia de escritos de Florentino de Carvalho (1883–1947): Anarquismo e Sindicalismo (2008), Anarquismo e Anarquia (2010) e Anarquismo e Socialismo (2012), além de Educação Anarquista: saberes, ideias, concepções (2012), todos pela Imprensa Marginal.
Em 2015, publicou a segunda edição do primeiro livro de Florentino (1927–RS): Da Escravidão à Liberdade: a derrocada burguesa e o advento da igualdade social (Editora Tumulto). Em 2016, lançou Cartas de um matuto e outros causos (EDUFCG e Bagagem), primeiro volume da Trilogia Matuta. Apresenta resultados de sua pesquisa em livros, coletâneas, congressos, palestras e minicursos, dentro e fora da universidade.









