Descrição
Neste segundo volume da Trilogia do Amor, bell hooks dá continuidade às reflexões de Tudo sobre o amor, ressaltando a importância de uma prática política fundamentada na ética amorosa como forma de destruir o racismo e o patriarcado. Salvação nos convoca a amar a negritude, a dignificar as mães solo, a acolher a homossexualidade e a saudar uma militância norteada por respeito e cuidado permanentes, e que rejeite qualquer tipo de dominação. É um livro dirigido a todo mundo que deseja o fim das opressões. Afinal, entender como a supremacia branca acarreta sofrimento em múltiplos aspectos da vida negra é de interesse coletivo. Como destaca a autora, “mesmo quando não podemos mudar a exploração e a dominação em curso, o amor dá significado à vida. Cumprindo a tarefa do amor, garantimos nosso triunfo sobre as forças do mal e da destruição”.
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Em Tudo sobre o amor, primeiro livro da Trilogia do Amor, bell hooks, concentrando-se nas desigualdades de gênero, parte do princípio de que o amor é uma ação e uma responsabilidade, não somente um sentimento que diz respeito às relações humanas. Neste segundo volume, mais do que compreender o amor, a autora se dedica a pensar o amor — e o desamor — como uma questão social da comunidade negra. Trata-se de um manifesto cuja mensagem central é o poder transformador do amor para criar mudanças sociais após séculos de opressão promovida pela ideologia patriarcal, capitalista e supremacista branca e seus decorrentes traumas que despedaçam o amor- -próprio, famílias e o sentido de pertencimento. Um manifesto por uma ética do amor que oferece, a um só tempo, o panorama histórico das forças que moveram uma comunidade negra amorosa — mesmo num contexto escravocrata e depois segregado — à fraturada e violenta geração hip-hop, revelando com profundidade o desespero coletivo que resulta na falta de amor. E, mais importante ainda, sendo uma ponta de lança, propondo estratégias e práticas para o fim do auto- -ódio e para que a vida em comunidade seja diversa, amorosa e, portanto, livre.
— nina rizzi, no Prefácio à edição brasileira
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O amor foi de fato ridicularizado — não apenas a mensagem para “amar seus inimigos”, da revolução não violenta encabeçada por Martin Luther King, mas também a mensagem de construir amor-próprio, autoestima saudável e comunidades amorosas. Como a busca por poder subsumia a busca por libertação na luta antirracista, havia pouca ou nenhuma discussão sobre o propósito e o significado do amor na experiência negra, do amor na luta pela libertação. O abandono de um discurso sobre o amor, de estratégias para criar uma base de autoestima e autovalorização que reforçasse as lutas pela autodeterminação, proporcionou o enfraquecimento de todos os nossos esforços para criar uma sociedade na qual a negritude pudesse ser amada por pessoas negras, por todo mundo. A difamação do amor na experiência negra, em todas as classes sociais, tornou-se terreno fértil para o niilismo, para o desespero, para a violência terrorista contínua e o oportunismo predatório. Isso tirou de muitas pessoas negras a ação positiva necessária se quisermos nos autorrealizar coletivamente e ser autodeterminados. Muitos dos ganhos materiais gerados pela luta militante antirracista têm tido pouco impacto positivo na psique e na alma de pessoas negras, pois a revolução interior, que é a fundação sobre a qual construímos o amor-próprio e o amor pelos outros, não aconteceu. Os negros e nossos aliados reconhecem que a potência transformadora do amor na vida cotidiana é a única força que pode resolver a infinidade de crises que enfrentamos agora. Não conseguiremos efetivamente resistir à dominação se nossos esforços para criar mudanças pessoais e sociais significativas e duradouras não estiverem fundamentados em uma ética do amor. Profeticamente, Salvação: pessoas negras e o amor nos chama para retornar ao amor. Abordando o significado do amor na experiência negra hoje, clamando por um retorno a uma ética do amor como plataforma de renovação da luta antirracista progressista e oferecendo um modelo para a sobrevivência e a autodeterminação negras, esta obra corajosamente nos leva ao cerne da questão. Dar amor a nós mesmos, amar a negritude, é restaurar o verdadeiro significado de liberdade, esperança e possibilidade na vida de todos nós.
— bell hooks, na Introdução
SOBRE A AUTORA
bell hooks nasceu em 1952 em Hopkinsville, então uma pequena cidade segregada do Kentucky, no sul dos Estados Unidos, e morreu em 2021, em Berea, também no Kentucky, aos 69 anos, depois de uma prolífica carreira como professora, escritora e intelectual pública. Batizada como Gloria Jean Watkins, adotou o pseudônimo pelo qual ficou conhecida em homenagem à bisavó, Bell Blair Hooks, “uma mulher de língua afiada, que falava o que vinha à cabeça, que não tinha medo de erguer a voz”. Como estudante, passou pelas universidades de Wisconsin, da Califórnia e Stanford, e lecionou nas universidades Yale, do Sul da Califórnia, Oberlin College e New School, entre outras. Em 2014, fundou o bell hooks Institute. É autora de mais de trinta obras sobre questões de raça, gênero e classe, educação, crítica cultural e amor, além de poesia e livros infantis, das quais a Elefante já publicou Olhares negros, Erguer a voz e Anseios, em 2019, Ensinando pensamento crítico, em 2020, Tudo sobre o amor e Ensinando comunidade, em 2021, e A gente é da hora, Escrever além da raça e Pertencimento, em 2022, e Cultura fora da lei e Cinema vivido, em 2023.