Descrição
“Amazônia Negra: as imagens da cor do (in)visível surgiu de um trânsito pessoal, de onde pude ressignificar minhas experiências como um corpo negro, com marcas e cicatrizes, para um corpo pensante, cheio de potências e desejos — sobretudo, de libertação dos estigmas.
Chegar à Rondônia foi o passo decisivo para as mais importantes conexões, foi o que me trouxe a capacidade de falar pelo meu corpo, de dizer o que este corpo sente e espera desta experiência terrena.
O livro nasce de pequenas incursões, em que a cabeça, antes repleta de estigmas, dá lugar aos movimentos de uma Amazônia Negra pulsante e cheia de nuances que se aproximam das minhas. Nasce também de um despertar para uma economia visual, em que o meu corpo e a minha mente são os pilares da casa que preciso reorganizar constantemente — dentro de um sistema que se alimenta da vantagem sobre a cor dessa casa.
São histórias que se movem para um destino comum: o da dignificação, do encontro com possíveis parentes; são afetos que, aos poucos, foram me levando a lugares importantes da minha própria história, relacionando as experiências do corpo com as novas imagens da cabeça. Imagens simples e complexas que me fizeram pensar o poder que elas transferem para o ambiente onde estão, do qual fazem parte, e o poder que reverberam em mim.
Este livro cabe nesses ínterins — ele é uma forma de retirar do corpo e da cabeça sensações que antes não se combinavam, por minhas experiências distorcidas, e que agora, nesta Amazônia Negra, se equilibram. Equilibram-se até pelo letramento de cada encontro: na beira do rio, nas florestas, nas ruas, nos presídios e em todos os espaços que contam abertamente a história negra das Amazônias.
Ter a pele preta e pensar sob esta pele foi uma tarefa árdua: entender onde esses corpos residem e se encaixam na economia, na visualidade, nas cidades, no campo, na floresta, e como esses lugares foram criados e impostos pela história.
Este livro se propõe, assim, a ser mais do que um registro dessas reflexões: é um gesto de reconciliação entre corpo e mente, memória e imagem, ferida e cura, história e presença.”
Marcela Bonfim, Porto Velho, Rondônia, 2025.




