Descrição
Geografia da autonomia nos permite estabelecer um diálogo-ponte entre as autonomias em Chiapas e muitos dos processos conduzidos pelos povos originários latino-americanos: de Cherán ao Wall Mapu, dos Purépecha aos Mapuche, passando pela Amazônia peruana e brasileira, pelos cabildos nasa e misak no sul da Colômbia e por uma quantidade incalculável de experiências nos mais remotos rincões do continente. A pesquisa que sustenta este livro faz parte da ruptura epistêmica promovida por quem toma o partido dos povos, sem por isso abrir mão do rigor analítico. Trata-se de uma opção ética, mais necessária do que nunca nestes momentos tão difíceis para a humanidade. Assim, estas páginas ajudam a iluminar o caminho das autonomias que fazem deste planeta um lugar onde é possível viver bem.
***
Geografia da autonomia: a experiência de autonomia territorial zapatista em Chiapas, México tem a enorme virtude de não se tratar apenas de um relato analítico sobre o movimento zapatista, mas de também se aprofundar em como a emergência de novos movimentos indígenas desarticulou a estratégia política institucional de cooptação dos povos originários — em particular no México, mas sempre em um diálogo possível com a realidade latino-americana. E também sugere que o conflito social é crucial para o desenvolvimento da teoria: que ele é tanto a sua base epistemológica quanto a raiz que sustenta o pensamento crítico. Para mim, o aspecto mais interessante deste livro reside na análise da territorialização das autonomias concretizadas por alguns sujeitos coletivos, pois demonstra as notáveis diferenças que essas autonomias carregam com relação às instituições autônomas criadas pelo Estado em outras latitudes. Mas a questão central neste trabalho é o modo como Fábio considera as autonomias. Não se trata de instituições, nem mesmo de instituições dos povos criadas “abaixo e à esquerda”, mas sim de processos longos, de tempos longos, como diria Fernand Braudel, e, por isso, sempre inacabados.
— Raúl Zibechi, no prefácio
SOBRE O AUTOR
Fábio M. Alkmin desenvolve pesquisas sobre autonomias territoriais indígenas na América Latina, com interesse atual na região amazônica. Possui bacharelado e licenciatura na área de geografia e mestrado e doutorado na área de geografia humana pela Universidade de São Paulo (USP), com ênfase em América Latina, movimentos indígenas, ecologia política e justiça ambiental. Realizou estágios de investigação internacional na Universidad Nacional de La Plata (UNLP), Argentina (2009/2010), na Universidad Nacional Autónoma de México (Unam) (2012/2013 e 2021) e na Queen Mary University of London (QMUL), Reino Unido (2022), financiados respectivamente pelo Grupo Montevideo e pela Fapesp. É membro dos grupos de trabalho Rede Dataluta (Brasil) e Povos Indígenas, Autonomias e Direitos Coletivos (Clacso). Realizou trabalhos de campo no Chile, Argentina, Bolívia, Colômbia, Guatemala e México, todos relacionados à temática das autonomias indígenas. Também possui experiência na área de cinema/audiovisual, tendo realizado documentários e participado da produção de curtas, médias e longas-metragens.